Afinal, o que é fantástico? – Parte 01

Afinal, o que é fantástico? – Parte 01

Olá, pessoas!
Lhaisa falando 😀

Uma vez escrevi uma série de posts para o blog (hoje inativo) de uma amiga sobre Literatura Fantástica. Mais tarde, atualizei o conteúdo para postar no site de Almakia. Hoje, vou mais uma atualizar algumas informações e trazer esse conteúdo para a Lumus, por ter a ver com o nosso trabalho aqui. É um resumão sobre tudo o que eu pesquisei e descobri relativo ao assunto e vou compartilhar aqui com vocês. Porque ter base de conhecimento do assunto que se escreve é tudo!

Aproveitem! E, caso encontrem inconsistências, podem comentar, sempre devemos deixar a porta do aprendizado e da renovação aberta 😀

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Então, para iniciar, é preciso afirmar: já faz muitos anos que temos uma noção básica sobre o que é fantasia, ainda que por muito tempo o gênero seja diminuído nos patamares de estudos acadêmicos em prol de outros gêneros mais… acadêmicos(?). Temos muito o que falar sobre os produtos gerados por pessoas criativas que usam o gênero fantástico para se expressar. Porém, não pensamos muito além disso. Ou melhor, sobre os fundamentos do gênero que nos permitem ter esses produtos. Afinal, quando surgiu o gênero? Ficção científica e fantasia são a mesma coisa? Séries e sagas são a mesma coisa? Distopias são tão fantasia quanto romances sobrenaturais? E que nome dar para o tipo de literatura produzido nesse gênero: literatura fantástica, literatura de fantasia ou simplesmente ficção? Existem estudos mais profundos sobre hoje em dia?

Vamos primeiro responder a última pergunta porque sim: existem estudos mais profundos sobre! 😀 Então, para quem quiser se aventurar nos horizontes além do que traremos nessa série de postagens sobre o assunto, recomendamos a leitura da obra de pesquisa do colega escritor Eneias Tavares em parceria com o Bruno Matangrano, Fantástico Brasileiro.

E, sobre as outras questões, realmente não espero ter todas as respostas para elas agora (quem sabe, um dia :D). Sou mais uma curiosa que gosta muito desse universo (um termo mais conhecido como ‘nerd’) do que uma estudiosa que traz todo um balaio bibliográfico com autores conhecidos para dar sustentação a afirmações. Entretanto, espero que todo esse conhecimento acumulado que será dissertado aqui nesses posts possam pelo menos ajudar outras pessoas a ampliar o seu mundo sobre o assunto. Afinal, aprender uma coisa nova nunca é tempo perdido 😀

Mas, vamos começar com o termo Narrativa Ficcional:

A palavra ficção vem do latim fictio, que deriva do verbo fingire, que por sua vez significa modelar, criar, inventar. Quando identificamos uma narrativa como ficcional, observamos nela uma realidade criada, imaginária, não real.

A narrativa ficcional é produto da imaginação criadora. Sempre mantendo ponto de contato com o real, recria a realidade, baseando-se nela ou dela se distanciando.

Prof.  Maria Alice S. Pinheiro.

Por mais que a narrativa ficcional viaje na maionese, ela sempre tem um pé na realidade. É um balão colorido que flutua alegremente, mas ao mesmo tempo tem um fio que o mantêm na mão do leitor. Sempre vamos precisar de um ponto real/comum para nos agarrar, e a partir dele modelar toda a fantasia. Pode ser algo bem simples, como um mundo onde existe mar. O mar é algo que nos é conhecido, e a partir dessa informações já podemos pressupor e presumir coisas de conhecimento comum sem que o autor desperdice páginas e mais páginas nos contando detalhes. Por exemplo, a física que faz um barco navegar pelas águas, ou mesmo a existência de peixes que servirão de subsistência para os personagens.

Como já dizia o pai da Literatura Fantástica, J. R. R. Tolkien:

O mundo das fadas contém muito mais coisas além dos elfos e fadas, e além de anões, bruxas, trolls, gigantes ou dragões: tem os mares, o sol, a lua, o céu, a terra e todas as coisas que há nela: árvore e pássaro, água e pedra, vinho e pão, e nós, homens mortais.

Aaaaaah, então é super fácil escrever uma fantasia, não? Você só precisa pegar o nosso mundo e enfeitar ele com coisas fantásticas, tipo unicórnios e baleias voadoras, não?

Na verdade, não é tão fácil assim. Existe uma segredo, uma mágica, que poucos escritores conseguem dominar. E o grande desafio em dominar esse segredos está em desenvolver a capacidade de enxergá-lo, já que ele é bem difícil de se ver. Robert McKee, um roteirista que se especializou no assunto ‘história’ (e nos presenteou com um livro que todos aqueles que pensam em ser escritores deveriam ler, o Story), diz o seguinte:

Todos os artistas podem botar suas mãos na matéria-prima de sua arte, exceto o escritor. Pois no núcleo de uma estória há uma substância, como a energia que gira em torno de um átono, que nunca é vista, ouvida ou tocada diretamente, mas ainda assim, a conhecemos e sentimos. A matéria da estória é viva, mas inatingível.

Conseguir identificar essa substância é o segredo. Saber usar instintivamente essa substância em sua maneira de escrever faz toda a diferença: te dá uma voz única como escritor. Essa é a mágica dos livros que conquistam os corações de seus leitores e diferencia os bons livros (ou boas histórias, já que independe do formato de mídia) de todos os outros.

Aaaaaah! Entendi, Lhaisa! Eu tenho que descobrir a substância da minha história, criar um mundo cheio de povos e criaturas fantásticas, um grande mal, heróis cheios de poderes e determinação, batalhas épicas, falas de efeitos e pronto… Serei um escritor famoso e rico!

Olha, até pode, mas, mais uma vez: não é tão simples de se conseguir como pode aparentar xD
Uma grande armadilha é querer fazer as coisas grandes, épicas. Às vezes, pequenas coisas se tornam significativamente grandes, e tem o mesmo efeito tendo apenas 100 páginas ao invés de 10 volumes com 500 páginas cada um. Compreender que quantidade não é a mesma coisa que qualidade também faz parte desse ‘entender a substância da sua história’ xD

McKee registrou ensinamentos importantes sobre isso:

O mundo da estória deve ser pequeno o suficiente de modo que a mente de um único artista possa abranger o universo ficcional criado, de modo que ele o conheça na mesma profundidade e detalhe que Deus conhece o que Ele criou.

Um mundo pequeno, porém, não significa um mundo trivial. Arte (de criar um mundo) consiste em separar um pequeno pedaço do universo de todo o resto e apresentá-lo de uma forma que esse pedaço pareça ser a coisa mais importante e fascinante desse momento.

Grandes escritores sabem. Portanto trabalham dentro do que é conhecível.

O efeito da escrita com autoridade é a autenticidade.

Contar uma estória é fazer uma promessa: se você me der sua atenção, eu lhe darei a surpresa, seguida do prazer de descobrir a vida, suas dores e alegrias em níveis e direções que você nunca imaginou.

Em negrito essa última porque acho que ela deve ser o mandamento de todos os escritores (e, na verdade, para todos aqueles de alguma forma usam o tempo de vida dos outros em seu trabalho, até mesmo o pessoal de telemarketing xD).

Tarefinha de casa para vocês: pegue aquele seu livro, filme, jogo, novela, música, roteiro, enfim, aquele produto do entretenimento em massa que você mais gosta e tente descobrir ‘o que existe nele que me faz gostar tanto?’

Até o próximo post! 😀

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