Afinal, o que é fantástico? – Parte 03

Afinal, o que é fantástico? – Parte 03

E eis a questão fatal: o que é o mais importante na escrita de uma boa história?

Saber usar as palavras?
Saber narrar bem?
Saber construir tramas envolventes?
Saber criar bons personagens?

Bom, tudo isso é importante. Mas, entre todos, penso que a construção do personagem é fundamental, já que é ele quem vai interferir em todos os outros itens da escrita. Afinal, é através dos olhos do personagem que os leitores acompanharão toda a história. (E, antes de levantar aqui a discussão de O PERSONAGEM e A PERSONAGEM, já vou avisando que escolhi usar o modo mais prático para simplificar, já que a regra gramatical permite os dois gêneros para a palavra e isso me ajuda a não causar confusão na hora de explicar enredos xD).

Podemos até conceber enredos brilhantes, porém, se não tivermos personagens que instiguem a maioria das pessoas, elas pouco ligarão para a estória que estamos contando ou tentando contar.
James McSill

Os leitores só irão aonde o personagem for, só sentirão o que o personagem sentir, isso é fato. Aproveitando que Marley&Eu já passou várias vezes na TV e até a minha mãe assistiu (e portanto não será spoiler nem para ela): o que emociona é a morte do cachorro ou o seu dono falando do quão importante o Marley foi para ele a para a família?

Como já disse a Tsubaki-oneesan (ecoando outro alguém), só um coração pode tocar outro coração. Se o personagem não for bem construído a ponto de ser encantador para o leitor, a história será simplesmente lida com os olhos e não com o coração. E isso vale para todos os personagens, seja o principal, o secundário ou o aleatório!

(clique na imagem xD)

Agora, quando eu digo encantador, não pense em algo como ‘adorável’. Pensar no personagem como adorável será consequência (vide Shrek). Encantador é no sentido realmente de encantar, não importando quem seja. Você simplesmente adora aquele personagem por simplesmente ser quem ele é. Vilões! Vilões bem construídos e bem usados na história são encantadores, ainda que façam o mal.

E, falando em vilões…

Fazemos parte de uma geração de histórias em que existe a dualidade do bem e do mal, tanto nos mocinhos quanto nos vilões. Então temos que fugir do simplismo de pensar que mocinhos devem ser heróis corajosos que salvam as pessoas e que vilões devem ter o objetivo de destruir. Não sei, mas para mim isso de dualidade sempre foi tão claro que é difícil imaginar que alguém ainda não pense dessa forma. Mas, julgando que tenha alguém aqui lendo que não concorde por não ter fundamentos fortes sobre o que é bem e mal, vou deixar uma dica de filme que ajuda bastante a pensar na questão (se nunca assistiu, assista! | se já assistiu, que tal rever pensando sobre as dualidades?).

Tá, mas voltando para a questão principal: o personagem é quem conduz a história (ponto). Sem ele, a história não anda, não se desenvolve. Se ele não dá o primeiro passo de sair do Condado, ele nunca descobrirá as maravilhas e perigos que existem na Terra-Média e nunca enfrentará um dragão. Se ele não dar um passo além do guarda-roupa/ Se ele não atravessar correndo a parede de uma plataforma na King Cross, se ele não pensar em coisas felizes que o faça voar, e assim por diante xD

Lhaisa, fazer aquelas listas de personagens, com nome, idade, gênero, características físicas, hobbies, habilidades, peso, tipo sanguíneo, se gosta de Coca-cola ou Pepsi, Halls de morango ou o preto-não-importa-o-sabor, ajuda?
Sim, ajuda. Mas, com o tempo você vai perceber que isso é mais ou menos como quando estamos no primário e nos empolgamos fazendo margens bonitas nos cadernos novos, e depois descobrimos que dificilmente iremos respeitar os limites e desistimos; ou decoramos tão bem onde ficam essas margens que não precisamos mais marcá-las, sabemos por instinto. Criamos os personagens, mas com o tempo eles passam a andar sozinhos. Com o tempo você vai saber tão bem como o Fulano irá reagir em determinada situação, que mudará pontos das tramas que já você tinha estabelecido para ficar condizente com o que Fulano faria. Com o tempo, o próprio personagem vai saltar na sua mente e dizer Acho que seria melhor assim. Aquela folha em branco margeada em seu caderno logo estará repleto de conteúdo e se tornará algo totalmente diferente do que você imaginou que seria quando ainda era um espaço vazio. Portanto, não se prenda ao que você determina para o seu personagem, não crie algemas que limitem até onde ele pode ir. Estruture a base, mas deixe-o livre o suficiente para que ele cresça, aprenda com os seus erros e acertos e se desenvolva. Você irá crescer junto com ele xD

E, falando em tudo isso, não podemos fugir de falar sobre A Jornada do Herói. É um conteúdo tão base da base para se escrever ficção que se você for escritor e ainda não tiver estudado sobre isso, repense imediatamente a sua vida xD Agora, para quem não é escritor e só se interessa em ler produtos criados por outras mentes criativas, vale a pena conferir esse vídeo que fala sobre o assunto. Ele ilustra tudo o que falei hoje nesse post xD

Resuminho básico da lição de hoje sobre o que é fantasia: quando pensamos em qualquer tipo de mídia de entretenimento, seja qual for, é difícil pensarmos nas histórias sem os personagens que a conduziram. Então não adianta ter um universo fantástico primoroso e personagens sem-graça, arroz com feijão, padrõezinhos do RPG.

Quer ver um exemplo de como os personagens fazem a diferença? Assista esse vídeo que é o resumo de um filme de animação, onde mesmo quem conhece um pouco de anime pode não entender o universo apresentado, e ao final julgue seus sentimentos em relação a história xD

Um exercício para encerrar? Pegue 5 histórias que você conhece e considera acima da média tente pensar nelas sem o personagem principal.

Pessoal, semana que vem sairemos dessa parte teórica sobre os elementos que compõem uma narração ficcional e iremos finalmente para o gênero fantástico mesmo. Então, nos vemos no próximo post o/

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